terça-feira, 3 de abril de 2012

 

Debates sobre Educação no Contexto Pró-Conferência Rio+20

Tião Soares

 

Cabe aqui, para começo de conversa, deixar claro, que este texto não se trata de uma pesquisa detalhada sobre a educação por ocasião da conferência Rio+20; se destina a um breve e superficial levantamento do que se estar a debater sobre este assunto nos últimos dias. A relevância e a importância merecida a esta área do conhecimento, careceria, efetivamente, de mais profundidade e dedicação, para se debruçar sobre o tema e, dessa forma, garantir um garimpo de maior execelência e responsabilidades.

Entretanto, é bom esclarecer que este breve texto se trata, apenas, de uma baixa demonstração, de uma superficial análise dentre tantos debates a respeito deste tema. Entretanto, os debates sobre a educação buscam uma demonstração sobre a responsabilização dos indivíduos pela sua formação, independentemente das condições em que se encontrem, a institucionalização de mecanismos de escolha e de liberalização(política liberal) na educação - que criam novos espaços para o exercício de estratégias de distinção por parte dos grupos mais poderosos - são alguns dos processos sociais frequentemente associados à produção de novas e profundas desigualdades e exclusões sociais.

Desse modo, a credibilidade e o sucesso de um programa político que articule a ampliação de oportunidades de educação, formação e a afirmação da cidadania dependerão do modo como, em simultâneo, for efetivamente confrontado o problema político ao valor posicional da educação, objeto dessas ações.

Neste sentido, a investigação, ainda que superficial, a que me propus a fazer pretende trazer uma breve análise do debate disponível sobre este tema. Ressaltando-se, no entanto, que o aprofundamento das análises disponibilizadas nas diversas opiniões, pareceriam sustentar a perspectiva de que é possível uma via de desenvolvimento humano, social e ecologicamente sustentável, distinta do modelo de competividade liberal-produtivista e que aponte em novos e mais amplos compromissos sociais associados a negociação de regras sociais e de proteção do meio ambiente.

Baseado nestes nos debates e reflexões acerca do tema da educação pró-Conferência Rio+20, chama a atenção a proposta do governo brasileiro na busca de sugestões alternativas sobre o desenvolvimento da economia verde por meio de incentivos à melhoria da qualidade de vida das populações, erradicando a pobreza e estimulando a sustentabilidade. Essa alternativa deve ser associada aos programas de transferência de renda, como os já adotados no país, e aos números positivos da economia nacional.

A defesa do pronunciado acima, até que se prove ao contrário, pode amenizar e/ou dar melhores respostas ao que me posicionei neste texto sobre processos sociais frequentemente associados à produção de novas e profundas desigualadades sociais e exclusões sociais.

Finalmente avalia-se que é cada vez mais urgente a implementação de um programa político que articule a ampliação de oportunidades de educação, formação e a afirmação da cidadania, de modo a fomentar o empreendorismo e melhorar a qualidade de ser e de vida.

Assim o debate sobre a educação alarga e enriquece, ainda mais, a compreensão dessa área do conhecimento como imprescindível ao desenvolvimento social e humano, abre novas intenções de novos modelos e estratégias da transição para uma sociedade includente, verde e responsável.

 

sábado, 29 de janeiro de 2011

Educações de Rua: Livre Escola da Expressão


              Uma das constatações das últimas eleições foi a ausência quase que completa de manifestações de rua. Foi possível dar uma volta pela cidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, e constatar que, mesmo com o clima de disputa tenso, a campanha não estava nas ruas. Em contrapartida, embora ainda com poucos impactos na decisão do eleitor, os movimentos virtuais na internet ganharam maior destaque no noticiário jornalístico. Por que será que a cada eleição e em maior intensidade esse fenômeno se repete, com a rua cada vez mais deixada de lado?

               Por um lado, vivemos uma revolução virtual que tem produzido alguns fenômenos colaborativos muito interessantes, com destaque para a blogosfera, na qual, graças aos esforços de milhares de desconhecidos, qualquer navegante de passagem pode transitar por comunidades, manifestar sua opinião e fazer uso de serviços confiáveis e de grande utilidade.

               Por outro, é interessante notar que esse espírito colaborativo, característica marcante do mundo virtual, não representa, nem de longe, o nosso dia a dia nas metrópoles. O que se vê são pessoas cada vez mais fechadas em si mesmas ou dentro de carros, escritórios, shoppings ou em condomínios pretensamente seguros, numa postura cada vez mais individualista e competitiva.

               A vida cotidiana nas grandes cidades tem se distanciado, a cada momento, das relações humanas. A rua tornou-se um espaço para os automóveis ou de práticas para outras culturas, entre elas a da violência e a da desagregação social. Com isso, gradativamente, as praças públicas foram praticamente abandonadas e deixaram de ser o lugar do encontro, do namorico, das conversas interessantes sobre os modos de vida, a cultura e a memória. Tais transformações estão ligadas à ausência de valores, à perda de sentido do encontro com o outro, com a vida real.

              A comprovar essa nova-velha cultura do automóvel e da pressa, todos os dias nas cidades são abertas novas ruas para se praticar a cultura individualista. Não surpreende que entre os eventos eleitorais de rua o mais praticado é a carreata.

              Diante de uma realidade concreta e vivenciada por todos, como contribuir para que o fenômeno do compartilhamento do mundo virtual se encontre, na política e na vida cotidiana, com o mundo real, com a rua, com a cidade?

              É necessária uma boa dose de criatividade e ousadia para fazer surgir novas práticas culturais que tornem atrativos os espaços ao ar livre, públicos e gratuitos, dos imensos centros urbanos. É preciso dotar esses espaços e colocar atividades na rua com tal poder de atração que consigam se contrapor, gradualmente, às opções de atividades individualistas, como é o caso da cultura do automóvel, que estimula e reforça a cultura da pressa.

               Exemplos dessas novas práticas culturais existem muitos, na cidade de São Paulo, em outros municípios do Brasil, em Bogotá, na Colômbia, e em variados cantos do mundo. Nesse contexto, são inseridos o uso da bicicleta, como alternativa concreta de transporte nos grandes centros, e a criação de práticas culturais que dêem um novo significado para a rua, que não seja apenas para a circulação do automóvel.
              
Um exemplo dessa utopia viável é a experiência dos Corredores de Livros em São Miguel Paulista, Zona Leste da capital paulista. Inspirada nos corredores de ônibus, que segundo os técnicos de transporte possuem inegável facilitação de locomoção para se livrar do tormento dos engarrafamentos urbanos, a Fundação Tide Setubal criou o Festival do Livro e da Literatura em São Miguel, em sua quinta edição (18 a 20 de novembro), com a pretensão de contribuir para que os espaços públicos voltem a ser lugares de livre expressão da vida social e da sociabilidade.

               Praças, pontos de ônibus, calçadões, escolas, clube da comunidade reunirão moradores em conversas com autores, lançamentos de livros, contações de histórias, trocas de livros, assegurando a promoção de espaços de circulação e de leitura, do encontro e da alegria. Os Corredores de Livros possibilitam que as pessoas juntas construam sonhos e significados de vida, troquem a ideia de crianças e moradores de rua, por ruas de crianças e de moradores. A rua passa ser o lugar de trocas, de saberes e de experiências humanas e não apenas espaço da violência, do medo, da pressa.

              Ao construírem itinerários da liberdade de expressão e do espaço livre, os Corredores de Livros recuperam o poder aglutinador, no qual ocorre a geração não intencional de oportunidades e situações entre as pessoas, que é o maior trunfo das cidades. Contribuem desta forma para combater o vácuo cultural que se empreendeu à vida nas cidades, transformadas num lugar vazio, sem alma, sem ares humanizadores e humanizados, sem sentido de pertencimento.

               Entretanto, não é uma empreitada fácil levar adiante ações potencializadoras para tornar o espaço público – praças, ruas, pontos de leitura, mercados – em lugar de convívio humano. Como bem definiu a antropóloga Maria Lucia Montes no I Seminário Cultura: Diálogos para o Desenvolvimento Humano, realizado em 2008 pela Fundação, mudanças de hábitos não são fáceis, porque implicam uma mudança de visão de mundo, alterações de perspectivas com relação aos valores que se traduzem em nosso comportamento cotidiano.

               Apostar em métodos inovadores de revitalização da rua, do espaço público e da cidade se constitui num enorme desafio, especialmente quando a pretensão é alcançar a conexão da rua com a cidade e desta com o global. Neste cenário, a cultura sendo vista de forma alargada, em que os valores humanos são colocados como ponto de partida.

               Desta forma se busca uma nova trilha e com ela se seguirá um percurso da rua como cenário urbano no qual a educação, a cultura, as campanhas políticas, enfim, o cotidiano e a vida real acontecem.







Uma nova Medelin

Por Tião Soares

            Semana passada, participei do Plataforma Puente, em Medellín, encontro que reuniu centenas de pessoas para dialogar e revitalizar políticas, estratégias, programas e projetos que ao longo da história da América vão permitir tecer ações entre o público e o privado, abrir perspectivas em torno da cultura e a sua força de transformação social.A reunião contou com líderes públicos e privados do continente que com suas propostas de trabalho possibilitaram a criação de sinergias capazes de contribuir para o fortalecimento do trabalho social e cultural nas comunidades.
               Entre as discussões foi possível perceber a criação de diálogos criativos, reflexivos e de integração entre o público, privado e a sociedade civil numa gestão conjunta entre redes, que permitem reconhecer, valorizar os desenvolvimentos em torno das políticas da arte, da cultura, da transformação social, da educação.
               A cidade de Medelin é marcada por múltiplas violências, foi dominada em muitos momentos de sua história recente pela máfia, pelo narcotráfico e por grupos paramilitares. O fortalecimento institucional, da governabilidade, do enraizamento e da cidadania foram alguns dos grandes desafios para a transformação da Medellin atual.
               Um conjunto de políticas, de estratégias, programas, de projetos e ações, de desejos e de sonhos, de compromissos de uma nova geração de políticos e de políticas trouxe a essa cidade um ar de transformação, vivenciado e vivido pela arte e pela cultura e a educação, buscando propiciar espaços para o encontro, para a contemplação, para o reconhecimento do outro.
Sujeitos ativos das diversas comunidades resistiram à guerra armada por uma revolução desarmada da arte, da cultura e da educação. A resistência se deu pelo enfrentamento de não perder a alegria. Assim se mobilizou pela razão de um sentimento, de um propósito comum, em defesa da vida digna, de seu território, pela sua identidade social e cultural que são exemplos de grandes transformações.
              É possível ver e sentir o aprendizado dos homens e mulheres de Medellín. Ele está no semblante e no desejo de luta de cada pessoa que se expressa em uma conversa, em um encontro. Forçados por uma situação de violência, produziram uma mudança substancial pela cultura, a sociedade se transformou e essa vitória fica muito clara.
             Por toda cidade, se respira um ar harmônico. Alguns têm orgulho em dizer: “A arte que transforma e a memória mobiliza”. Este lema é um dos motes para um plano de revolução sem armas, implantado nas comunas.Andei de bonde e ao passar sobre os bairros, ouvia-se cantos, expressividades da cultura local, via-se ruas de lazer. Casas e centros culturais diversos em favor da vida. Pessoas felizes, muito felizes.
              Andando pelas comunas, conheci o “parque biblioteca”. Um projeto estratégico encravado em meio à ex-zonas de conflitos armados. A comuna de Espanha, uma dos famosos territórios de Pablo Escobar, é hoje habitada por uma revolução pela literatura, com um dos mais belos parques bibliotecas, premiado muitas vezes por sua arquitetura. Mas não é só isso não. Neste espaço (grande e lindo), há bibliotecas para crianças, adolescentes, jovens, há, cinema, salas para discussões, e muitas pessoas se encontram, socializando, conversando. Lá, se discute diariamente os rumos das políticas adotadas. Espaço de vida, de alegria e da criatividade.
              Ao caminhar pelo no entorno, mira-se um grande prédio. Logo se pergunta: O que é isso? A menina ao lado nos diz: “aqui é o restaurante de nossa escola e desse lado de cá, junto a ele é a nossa escola”. Esse restaurante é um deslumbre. Dar-se mesmo vontade de se fazer uma refeição mesmo que não se tenha fome nem vontade de comer.
              Voltando em direção ao bonde, agora embevecido pelo que vi, olho mais um pouco abaixo de uma ribanceira (porque Medellin e rodeado de montanhas enormes por todos os lados) e vejo uma coisa nunca antes vista: um restaurante menor chamando, também de restaurante escolar, mas sediado numa casa. Sim uma casa simples, como é mesmo o caso de todo mundo que por ali vive. Eles, incentivados pelo governo, também servem alimentação para os alunos das escolas próximas.
             Calado sai. Chorando também. O coração doía muito, condoído, machucado de emoções e de soluços de esperança. Ratificou-se ali, depois dessas andanças, que é possível, sim, mudar. A arte, a cultura, a educação, o desejo de construir mudanças formam pares sustentáveis para o desenvolvimento humano.
              Medellin, lembrada por tanta gente como a cidade de Pablo Escobar, como a cidade das milícias, é agora a Medellin dos sonhos, da respiração oxigenada de amor, de luz e da cultura, que alicerça a esperança e o brilho do olho e do olhar de cada criança, que reluz na empatia do acolhimento, uma forma nova de ver o mundo e estar com ele. A culturalização da educação e a educação da cultura podem transformar. Acreditem nisso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sustentabilidade da Cultura

(Artigo de Tião Soares para Curso de Especialização em Gestão Cultural da Universidade de Girona/Observatório Itaú Cultural, São Paulo, fevereiro de 2010)

Antes mesmo de entrarmos no tema da sustentabilidade da cultura, procuro em primeiro lugar e para início de conversa, a compreensão do é mesmo cultura e para isto, busco apoio em Tylor, a concepção universalista da cultura. É Edward Burnett Tylor(1832-1917), antropólogo britânico, que devemos a primeira definição do conceito etnológico de cultura, a saber:


“Cultura ou civilização, no sentido no sentido etimológico mais lato do termo, é esse todo complexo que compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”(1871,p.1)

Esta definição simples e clara trazida por tylor, nos faz buscar um outro encontro com Franz Boas (1858-1942) o primeiro antropólogo a conduzir investigação por meio de uma observação direta e prolongada das culturas primitivas. Deste modo, é ele o inventor da etnografia.

Ora, foi também Boas que levava ao extreemo a preocupação com o pormenor e exigia um conhecimento exaustivo da cultura estudada antes de qualquer conclusão geral. Ele aconselhava a prudência, a paciência, passo a passo, na pesquisa. Tinha consciência da complexidade de cada sistema cultural e pensava que só o exame metódico de um sistema cultural poderia dar conta da sua complexidade.

Desse modo, como aqui o assunto é a sustentabilidade da cultura, haverei de buscar, também, a compreensão do conceito de sustentabilidade. O que se ver e se ler em torno deste conceito é o que muita gente diz que sabe o que pensa e pensa que sabe o que é a cultura e, mais que isso, sustentável. Isto é, a sustentabilidade da cultura

Neste terceiro forum e alongando-se por meio da inspiração e das lições tiradas nas aulas presenciais, fomos quase à exaustão em nossas discussões, procurando entender um conceito que acomodasse a compreensão de cada um, neste novo jeito de se achar sustentado, seguros. Ou seja, por assim achar que sustentabilidade é moda, e assim se usa para se definir qualquer coisa que se dar continuidade, que se garanta o ou um futuro, minimamente, equilibrado, etc. Mas, o que é, afinal, sustentabilidade? Um Conceito , um termo não muito novo, criado na década de 80 por representantes de mais de vinte governos, líderes empresariais e representantes da sociedade, membros da Comissão Mundial que discutiam, meio ambiente e Desenvolvimento na Organização das Nações Unidas(ONU).

Nesta busca de compreensão do termo, nos parece mais claro que o desenvolvimento sustentável, caminha para ser aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Ou seja, é o equilíbrio na convivência entre o homem e o meio ambiente? Pode ser. Mais o que é mesmo cultura sustentável?

Teixeira Coelho insiste em lembrar que ”a cultura só faz sentido se for expressão da negatividade, Contra esse processo de domesticação da cultura; ou seja, aquilo que traz mudança e destruição”. Desta forma, o conceito de sustentabilidade da cultura pode cair por terra ou mesmo se fragilizar quando se define sustentabilidade como sendo algo que se dar continuidade. Entendo o dizer de Teixeira, acho que a sustentabilidade da cultura ou mesmo a cultura em si, deve sustentar por si só por se transformar, mudar, se destruir; ou seja, ela se sustenta, mas é outra coisa, nunca será a mesma coisa. No entanto é a expressão do novo, é dinâmico.

Entretanto, a idéia do desenvolvimento sustentável não cabe no mesmo conceito da cultura sustentável, no dizer de Coelho, em sua obra “A cultura e seu Contrário”, objeto de estudo de nosso curso.

A relação entre cultura e sustentabilidade, pelo que me parece ser, tem a ver com a sustentabilidade humana, sem esta não acredito que exista àquela. Se o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades, cabe dizer que a sustentabilidade da cultura somente poderá se entender se houver o equilíbrio do humano com seus valores, crenças, hábitos, suas dinâmicas e portanto, o novo sob as matizes enraizadas, mas não é a mesma coisa.

“Voltando, ainda, a busca de um conceito que nos sustente, recorremos ao dicionário e vemos: Sustentável, adj. que se pode sustentar, capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável, por longo período”. (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).Aqui cabe mais um comentário a respeito do que traz a continuidade e o desenvolvimento das culturas, mas do ponto de vista de uma relação histórica.

Assim a palavra cultura pode ter um segundo sentido além do antropológico. Este segundo é particular, singular, ligado a uma sociedade, a um outro momento histórico. Cada sociedade comporta sua própria cultura, sua própria linguagem, técnicas, valores, mitos, crenças.

Há uma outra compreensão trazida por Teixeira Coelho, em seu dizer ele traz à luz de que a cultura tem que ser reconfigurada. Tudo bem, vamos admitir esse novo olhar. Imaginemos que estamos na origem de nosso debate da sustentabilidade da cultura. Na expectativa de uma perspectiva de acreditar que é assim mesmo: Reconfigurar para sobreviver na/da cultura ou para ela e com ela.

A economia da Cultura, parte de nossa compreensão sustentável

Em nosso último encontro presencial, tivemos a oportunidade de solver belas lições e apreensões com um de nosso mestre, desta feita, Xavier. O mestre para começo de conversa nos traz logo de cara a seguinte questão: O que podemos esperar da economia da cultura? Logo em seguida, mostra as antecipações sobre a economia da cultura e não define muito bem a distinção entre arte e cultura, trouxe, portanto, demonstrações de suas consequências na globalização e da cultura digital, mas isto, no meu entender, apenas do ponto de vista da arte. Desconsiderando, todavia, o conceito mais alargado da cultura.

Com estes questionamentos sobre a economia da cultura ele percorre a idéia da substituição de uma lógica econômica com a lógica artística e, aqui é que faço o meu comentário, de certo modo, discordando do autor por assim achar que a cultura não, apenas, se resume a questão artistica ( conceito de cultura bem definido acima deste artigo e desta forma aqui defendido) e pelo que aparentou ser, vejo na questão cultural um patamar maior e mais sustentável quando se refere a outros modos de vidas e de desenvolvimento social e humano.

Neste sentido, a idéia do artístico tem, nomeadamente, a sua importância, mas a cultura não pode se resumir apenas as belas artes. Por outro lado, vejo que os efeitos econômicos sobre a existência e a sustentabilidade das atividades artísticas devem ser bem significativos do ponto de vista do lucro. Pois, se considerarmos a cultura, apenas, nessa dimensão é mesmo insignificante. Condição bem definida pelo autor, como sendo a arte, a quinta parte da cultura .

Por outro lado, com esta qualificação, o autor considera a cultura, neste ponto de vista, mais alargada e, portanto, mais sustentável por se tratar de uma dimensão humana, junto com a arte e, por isso, acho que é na cultura que se forma a base e ,esta, deverá ser paga por nós povo produtor e consumidor, por assim dizer que pagamos porque somos contribuintes e como tal temos o direito de consumir esses produtos que nós mesmo produzimos, todavia, para esta condição há de se haver por parte do Estado, ressarscimento desta produção,para que deste modo se construa uma política de cultura, sustentando atese acima descrita que a cultura se sustenta por si só porque é humana.

Há de se convir que se considera e nao se conceitua a cultura como sendo uma cultura do espetáculo, nem das belas artes. Neste sentido, a questão do artista terá que ser considerada numa dimensão da cultura. Até porque ele, o artista, está inserido dentro da cultura e com isso tem o seu território e a sua atividade dentro da cultura, desse modo, contribui para o desenvolvimento econômico e social. Assim, sustentável pela condição humana; isto é, dos valores.

Assim, com esta compreensão, a questão não é apenas pela produção. A cultura não pode ser tratada como algo isolado, precisa se ter uma real importncia desta dimensão. Daí, a sustenbilidade da cultura pode se definir por assim dizer, porque é uma necessidade básica de qualquer ser humano. Não há, ao meu ver, possiblidades de se pensar no ser humano sem a cultura e, portanto em sutentabilidade sem esta condição. Daí a questão: a sustentabilidade é humana.

Isso significa cuidar dos aspectos ambientais, sociais e econômicos e buscar alternativas para sustentar a vida na Terra sem prejudicar a qualidade de vida no futuro.


Referências Bibliográficas

COELHO NETO, Jose Teixeira. A Cultura e seu contrário. Ilumnárias, São Paulo, SP. 2009.
COELHO NETO, Jose Teixeira. A cultura pela Cidade, Iluminarias, São Paulo-Sp.2008
CUCHE, Denys. A noção de Cultura nas ciências Sociais, Tradução:Pereira, Miguel Serras.Fim de século.Portugal. 1999.
BOAS Franz, Race, Language and Culture, Macmillan, New York, 1940.
TYLOR Edward B., La Civilization Primitive (trad. Franc.), Reinwald. Paris, 1876-1878, 2 vol.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Auscultação Social: Um Olhar sobre a Cultura como Política e suas Práticas no interior de Projetos Sociais

(parte do folheto de Trabalho apresentado no Fórum Social Mundial 2009 em Belém do Pará)



Não devemos reinventar a roda, mas fazê-la rodar. Muitas atividades já foram desenvolvidas nas comunidades e cabe a nós enxergá-las com outros olhos. É necessário valorizar e aproveitar, ao máximo, as experiências já vivenciadas pelos atores sociais e fazer valer a prática da educação compartilhada e a troca de conhecimentos.

As ferramentas da auscultação social estabelecem em si um jeito de escutar e de observar os gestos, os ruídos internos e o que há dentro de cada um, escutar o barulho do silêncio e o que o gesto comunica. Valorizar o saber social da comunidade, observar seus modos de vida, conhecer raízes de seu acervo cultural, a origem e história dos moradores, resgatar a memória coletiva são caminhos para despertar um sentimento de pertencimento. É desta forma que a metodologia da ausculta social propõe a pensar a cultura como uma política pública. A cultura da raiz, da origem da historia que as pessoas vivem em suas comunidades. O sentido do jeito e o jeito de ser de cada um e de cada comunidade.

Na prática, diálogos permanentes e contextualizados com educadores, educandos, gestores e comunidade, privilegiando o “fazer com”, fazer junto com a comunidade, em contraposição ao “fazer para”, nos mostra que é através da cultura que afrontamos o destino com que nos deparamos. É através da cultura renovada e de uma educação renovada que seremos capazes de responder aos desafios da era planetária e remediar as carências mais fundamentais de nossas culturas.

Assim as atividades educativas, culturais, artística e de cidadania tem caráter formativo e são trabalhadas em círculos culturais, ou seja, valendo-se do método, que é a nosso ver, inovador, mas bastante simples: A auscultação Social.

Apesar do Desencantamento do Mundo moderno, por meio da ausculta social, lições são aprendidas e tiradas no caminho trilhado, proporcionando a ampliação do desenvolvimento humano em outras comunidades, dando-lhe um caráter de articulação da arte, da cultura e da cidadania.

Cultura e Educação: Pares para a Sustentabilidade Humana

(resenha de folheto do Trabalho apresentado no Fórum Social Mundial 2009 em Belém do Pará)

Como conceber um projeto possível de desenvolver o potencial criativo de pessoas e pensar na possibilidade que este seja construído por elas, considerando que a cultura é um complexo conjunto de hábitos, costumes, práticas, normas, proibições, estratégias, idéias, transmitidos de geração, que se reproduzem e se mantém, produzindo a complexidade humana?

A união da cultura com a educação possibilita abrir janelas críticas e conscientes, para que as pessoas se tornem capazes de refletir sobre os seus fazeres e saberes. Saberes deixados para trás e ou adormecidos, devido ao grande fluxo de informações, vez transformados em deformações.

A metodologia da auscultação social usada em projetos sociais que se desenvolvem em alguns espaços comunitários e governamentais – sociedades de bairro, casas de cultura, oficinas culturais, Ongs, etc – despertam o entendimento do fazer saber, da compreensão do ser como produtor de sua própria cultura.


Assim a palavra cultura pode ter um segundo sentido além do antropológico. Este segundo é particular, singular, ligado a uma sociedade, a um outro momento histórico. Cada sociedade comporta sua própria cultura, sua própria linguagem, técnicas, valores, mitos, crenças.

Pensar a cultura e a educação como pares para a sustentabilidade humana, é pensar em ações que se constituam em ponto de partida, em instrumento para um debate que culmine em uma perspectiva da problemática educativa, cultural e de valores humanos.

Culturalizar a educação é arte que se constrói fazendo fruir práticas e manifestações na sua localidade. Da conversa em pé-de-calçada e da roda de conversa, o saber e o viver de cada um é fator importante no processo de aprendizagem.

As piscadelas de um olhar têm sentidos diferentes porque a cultura se manifesta através das culturas, como a linguagem humana só pode se manifestar através das diversas linguagens. De modo, que a idéia da sustentabilidade é nomeadamente humana e para tanto ela se fundamenta por meio desses pares: Cultura e educação.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Cultura que Forma e Transforma

A cultura que forma e transforma


Quando pensamos em cultura, logo nos vem à cabeça um leque de definições. Procuro não me ater a ele. Busco nas lições tiradas em nossas discussões e na apreensão dos debates, uma nova forma de tocar a compreensão de cultura ou de uma política para ela. Assim, elegi uma e com a qual podemos refletir em especial: a cultura que efetua formação e transformação na vida das pessoas. Neste sentido, buscarei traçar caminhos que nos aponte portos mais seguros que garantam uma ampliação do leque de escolhas e, assim, de aumentar a liberdade livre das pessoas na definição de seus fins.

Isso pode significar que não há uma substância chamada cultura e como tal, o que é cultura para um, pode não ser a mesma coisa para outro. O importante aqui, é imaginarmos que não há uma acumulação de cultura, onde as pessoas se tornem donos dela e que detenham o domínio sobre todo e qualquer conceito. Assim não há indivíduo que tenha mais cultura que outro. Mais ainda, acredito que uma pessoa culta tenha menos oportunidade de viver a cultura do que uma pessoa, dita, inculta.

Visitando os escritos do filósofo Renato Janine Ribeiro, percebo em sua descrição que a pessoa que freqüenta museus, cinemas, teatros, etc. o grau de novidade de uma obra cultural, a mudança que ela proporciona, pode estar perto de um grau zero. Com esta constatação, imagino que isto quando ocorre é como se estivesse esgotando a sua capacidade de ampliar estoques. Será isso mesmo? Enquanto, diz o filósofo: “ uma pessoa virgem em cultura pode ter um vasto território a expandir. Daí que uma política de cultura deverá incluir, nomeadamente, os visionários da cultura; ou seja, os cultos. Neste caso se incluiria uma grande parte dos freqüentadores e dos criadores da cultura. Todavia, numa política que devemos traçar neste debate para que possamos garantir, também, a participação imprescindível, dos ditos, não cultos; ou seja, a inclusão daqueles que têm pouco acesso aos bens culturais, as suas obras de arte e assim esteja mais esvaziado e possa com isso, absorver muito bem a importância que esta obra cultural venha a ter na sua formação e quiçá na sua transformação.

As nossas intenções são boas, não sabemos se alcançaremos os objetivos de uma definição de cultura que busque em seus efeitos o que ela tem de importante nas vidas das pessoas. De todo modo, a busca é trazer para perto destas reflexões algo que se aproxime e promova um caráter fortemente libertador, que ao mesmo tempo em que possa produzir uma redução da importância (como sendo a única) de uma hierarquia das obras de arte ou da cultura erudita. Mas, que possam promover o acesso de pessoas ainda não providas desse” privilégio” ao conhecimento e mais que isso, do reconhecimento.

O acesso a cultura, dessa forma descrita, não significa que apenas mais pessoas freqüentem museus, cinemas, teatro etc, mas que cada vez mais, mais pessoas definam seus fins e que sejamos, apenas, os facilitadores dessa condição. Pretende-se que se tenha uma política de cultura que garanta com que as pessoas tenha cada vez mais experiências intensas para a ampliação de perspectivas e amplificação de seus contatos com que é de novo; ou seja, as pessoas possam se reconhecer dentro de sua cultura sob outro ponto de vista social: ser um ser liberto e não apenas numérico, estatístico. Compreender a política de cultura que agregue valores, que traga maior liberdade. A cultura liberta e promove mais opções de vida saudável com qualidade; isto é, uma qualidade que vai muito além da quantificação estatística. Cultura recheada de Valores humanos, condição sine qua non para a construção de perspectivas sociamente igualitárias.